29 de outubro de 2009

Um certo muro


Recentemente recebi este texto:


"Havia um grande muro separando dois grandes grupos.

De um lado do muro estavam Deus, os anjos e os servos leais de Deus. Do outro lado do muro estavam Satanás, seus demônios e todos os humanos que não servem a Deus. E em cima do muro havia um jovem indeciso, que havia sido criado num lar cristão, mas que agora estava em dúvida se continuaria servindo a Deus ou se deveria aproveitar um pouco os prazeres do mundo.

O jovem indeciso observou que o grupo do lado de Deus chamava e gritava sem parar para ele: 'Ei, desce do muro agora! Vem pra cá!'

Já o grupo de Satanás não gritava e nem dizia nada.

Essa situação continuou por um tempo, até que o jovem indeciso resolveu perguntar a Satanás: 'O grupo do lado de Deus fica o tempo todo me chamando para descer e ficar do lado deles. Por que você e seu grupo não me chamam e nem dizem nada para me convencer a descer para o lado de vocês?'

Grande foi a surpresa do jovem quando Satanás respondeu: 'É porque o muro é MEU.'

Nunca se esqueça: Não existe meio termo. O muro já tem dono."

Então, decidi continuar a história e retirar uma outra "moral":

Um grande muro, separando dois grandes grupos. De um lado aqueles que se dizem servos de Deus. Do outro, aqueles que optaram por aproveitar um pouco os prazeres do mundo. Em cima do muro, um jovem indeciso, cheio de dúvidas.

Após trocar algumas palavras com as pessoas que cercavam o muro, o jovem continua em dúvida, pois, além de não saber em quem confiar, prefere buscar suas respostas de uma maneira mais cautelosa, observando, investigando, a fim de chegar o mais próximo da verdade. As dúvidas são tantas que ele passa a olhar ao redor, analisando cada detalhe. Para conseguir um maior número de informações, ele se põe a caminhar sobre o muro.

Na medida em que caminha, percebe alguns dos autoproclamados servos de Deus se permitindo aproveitar a vida e aquilo que o mundo lhes oferece. Percebe ainda que, do outro lado do muro, existem pessoas preocupadas com o próximo, comprometidas em conduzir suas vidas baseadas em princípios que permitem uma boa convivência social, o que acaba sendo muito bom para todos que ali se encontram. As figuras demoníacas poderiam ser apenas projeções daqueles que estavam do outro lado, num momento em que ainda não compreendiam que é possível buscar novas possibilidades. Enfim, o jovem descobre que não existem apenas duas opções e que muitas vezes é possível chegar a um meio termo. Quanto mais se distancia do ponto de onde partiu, mais percebe semelhanças entre os dois grupos. Ele pensa, então, no fato de ser esta a única vida certa que temos. Qual a melhor forma de vivê-la?

A grande surpresa se dá quando o sempre curioso e persistente jovem chega ao fim do muro. Sim, o longo muro termina. E, para além dele, todos estão reunidos. Alguns continuam com o intuito de servir a Deus e, para estes, sua figura é tão forte que até parece que ele vaga por entre eles. Mas ali também estão Alá, Brama, Shiva, Oxalá, Tupã, Zeus e muitas outras figuras que se fazem presentes para aqueles que decidem manter seu respeito por elas. Há ainda aquelas pessoas para as quais essas representações são desnecessárias; pessoas que vivem de modo independente de qualquer crença mística, para as quais as duas opções que o jovem conhecera no começo de sua jornada eram muito pouco, algo muito pequeno diante da grandeza do universo. E todos vivem da maneira mais pacífica possível, pois a bondade ou maldade de cada um nada tem a ver com os seres nos quais decidiram crer ou não. Os problemas existem, conflitos são abundantes, mas muitos anseiam e trabalham pelas soluções, apesar das diferenças inevitáveis.

O jovem poderia continuar adiante, pois já consegue avistar ainda mais transformações à frente, mas o caminho se torna mais difícil e, a partir de agora, ele precisa seguir um pouco mais devagar, sempre ao lado daqueles com quem vive agora. Na cabeça, a conclusão de que não importa quem era o dono do muro. O importante é que não existam muros.

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