6 de maio de 2015

Política contra o ódio


Debater sobre política é mesmo interessante e pode ser muito construtivo. Mas é preciso entender uma coisa: você não está em uma luta do bem contra o mal. Existem pessoas com ideias muito diferentes das suas, mas que são tão bem intencionadas quanto você. Não são inimigos a serem combatidos. Elas também desejam o melhor para o país e para a população. Porém, como estamos lidando com questões subjetivas, as percepções a respeito dos caminhos a serem percorridos variam de pessoa para pessoa. Isso não significa que você esteja do lado do Brasil e que aqueles que pensam diferente estejam de algum outro lado. Quando você veste uma camiseta verde e amarela, isso não lhe torna mais patriota ou superior a quem veste qualquer outra cor. Portanto, não venha com essa conversa de que é “do bem”, como se os outros fossem “do mal”. Aprenda a debater ideias sem dirigir chacotas, humilhações, xingamentos e ofensas a quem pensa de modo diferente. Não se trata de perder o bom humor, pois há uma grande distância entre a graça e o desrespeito. Se você tem gostado de falar sobre esse assunto, mas está com a impressão de que as conversas dentro de seu grupo de relacionamento são verdadeiros focos de resistência, nos quais se trama secretamente a revolução redentora, ou se acha que está salvando o país... Meu amigo, infelizmente, é preciso alertar: você está muito maluco, ou não está conseguindo enxergar todo o cenário, ou lhe faltam informações, principalmente históricas. Neste terreno da política, se o sentimento que tem lhe dominado é o ódio, então há alguma coisa muito errada com você. As paixões ajudam e impulsionam, desde que devidamente equilibradas pela razão.

A sociedade é o que é, com suas qualidades e suas deficiências, devido à mistura das mais diferentes correntes de pensamento surgidas ao longo do tempo. Liberais, conservadores, progressistas, reacionários, socialistas, smithistas, marxistas, keynesianos, esquerdistas, direitistas, ateus, agnósticos, religiosos, humanistas, secularistas... Todos contribuíram para que o mundo seja aquilo que é. É o constante embate e colaboração entre os infindáveis posicionamentos, ora puxando para um lado, ora para outro, que vai transformando as relações sociais e produzindo cenários diferentes daqueles do passado. De um modo geral, todos deverão reconhecer que o movimento é no sentido de melhora, apesar de existirem períodos e questões nos quais se observa algum retrocesso. É preciso perceber também que as diferentes questões avançam e retrocedem em ritmos diferentes. Por isso, espanta-me ver indivíduos dispostos a transformar radicalmente a realidade de acordo com suas convicções. Não desconfiam que possa haver consequências imprevistas? Que possam estar errados? Que outras ideias talvez devessem ser levadas em consideração? Que talvez fosse melhor fazer mudanças mais lentas e planejadas na direção desejada, de modo a conseguir testar os resultados? Basta de fundamentalismo! Os “novos politizados” precisam cortar esse vício o quanto antes, de preferência agora, na raiz.

30 de março de 2015

Pudera


O dia em que saí pra rua.
O dia em que não vi a lua.
O dia em que eu vi que era e não era, pudera e deixara de ser.

O dia em que eu vi que era e não era.
Não era pra saber que era. Pudera.
Pudera eu sair pra rua, sem lua, sem rua e sem nada pra ver.

8 de fevereiro de 2015

Estou aqui


Alguns inquisidores têm perguntado nas redes sociais onde estariam os eleitores de Dilma. Bom, pelo menos no que diz respeito a mim, posso dizer que estou aqui onde sempre estive. É preciso alertar, no entanto, caso alguém ainda não tenha percebido, que o processo eleitoral terminou. Está aí, claramente, a razão pela qual tenho feito menos postagens relacionadas ao governo do que fazia em meados de outubro passado. Naquele momento, eu tinha a intenção de convencer as pessoas a acompanharem minha escolha. Hoje, por um motivo óbvio, isso não é mais necessário. Outros de seus eleitores devem estar por aí, em situação semelhante. Todos aqueles com os quais tenho alguma proximidade continuam deixando clara sua opção. Outros devem ter reavaliado seu posicionamento, assim como devem ter feito vários eleitores de Aécio. Porém, o que quero mesmo destacar aqui é que se faz urgente interromper esse clima extremamente prejudicial de “caça às bruxas”.

Não é nenhuma novidade que a maioria das postagens que circulam pelas redes sociais são extremamente simplistas, muitas delas falsas e distorcidas. O ritmo frenético de publicação de novidades (nem sempre tão novas) estimula um alto grau de superficialidade. Essas redes possuem grandes vantagens, como a possibilidade de trocas de informações e ideias, capazes de levar a entendimentos positivos. O grande problema é que, quando o assunto é um pouco mais sério, no sentido de ter impactos importantes sobre a vida das pessoas, esse comportamento pouco aprofundado acaba por descambar para um fundamentalismo boboca, que, como consequência, pode incentivar ações muito pouco construtivas ou, pior ainda, destrutivas e retrógradas.

Não defendo de forma incondicional nenhum político, partido ou figura pública. Tenho muitas críticas ao atual governo, mas também sei reconhecer os aspectos positivos, principalmente aqueles ligados ao combate à miséria, à pobreza e à desnutrição (com reconhecimento pela ONU), ao respeito à democracia, à preservação do emprego e à valorização da renda, ao investimento em infraestrutura, a políticas de inclusão, entre outros. Percebo claramente os erros cometidos, principalmente na área econômica, inclusive aqueles que podem chegar a ameaçar algumas das conquistas citadas, se não forem feitos os devidos ajustes. Ajustes estes que, provavelmente, estariam sendo feitos de qualquer forma, independente do candidato eleito. Porém, possivelmente, com foco e intensidade diferentes.

Em um país grande como o Brasil, sabemos que é muito difícil agradar a todos os setores. O câmbio apreciado gera a reclamação de alguns, mas a depreciação gera grita por parte de outros. Impostos sobre importação, do mesmo modo, apesar de produzirem seus descontentes, contam com o apoio de grande parte do setor produtivo. Impostos mais específicos, como a CIDE (sobre combustíveis), se forem implementados de maneira setorizada, voltados, por exemplo, para a área de logística (neste caso da CIDE), são muito interessantes e podem representar grandes avanços, como fizeram no passado, inclusive na era FHC (antes das imposições do FMI). Mas se forem jogados de modo genérico no caixa do governo, já não contam tanto com o meu apoio (não porque não pudessem servir para investimentos importantes, mas sim devido ao menor impacto na verdadeira alavancagem da economia).

Por isso, acho que não devemos analisar cada medida isoladamente, mas sim o conjunto e o resultado delas. Farei a avaliação do segundo mandato em todo o seu decorrer e, lá na frente, quando chegarem as eleições, irei considerar as opções disponíveis. Afinal, não tem jeito: eleição é, inescapavelmente, comparação. E assim foi o último pleito, como todos os outros: dentre as opções disponíveis, julguei que Dilma fosse a mais apta para fazer um governo melhor e mais próspero para a maioria da população. Passou-se pouco tempo desde então, já tenho elogios e críticas às primeiras medidas, indicações e sinalizações deste novo mandato. Mas, se as eleições fossem repetidas hoje, eu a escolheria novamente. Não porque eu morra de amores por ela ou por seu partido, e sim porque considerei que as alternativas apresentadas eram piores.

Algumas pessoas chegaram a manifestar vergonha pelo voto alheio ou luto pelo país logo após a divulgação dos resultados do processo eleitoral. Arrisco-me a dizer que esses indivíduos não teriam agido de maneira tão rasa se soubessem o que é um luto de verdade, com o todo o sofrimento aí implicado. Mas, retirando o aspecto ridículo desse tipo de manifestação, o que resta é muito pouco ofensivo. O que realmente pode ofender e desrespeitar são os ataques que procuram taxar de “burro”, “bovino” ou “alienado” o eleitor que fez uma opção diferente. Trata-se, inclusive, de uma demonstração de ignorância, pois desconhece o apoio de inúmeros representantes importantes da intelectualidade brasileira e até internacional à então candidata petista. Incluem-se aí, provavelmente, até mesmo personalidades admiradas pelos autores das críticas infundadas, apesar de eu ter visto alguns casos de pessoas que decidiram trocar antigas admirações por figuras menores, como pastores radicais e jovens colunistas de aluguel, em consequência de uma simples opção eleitoral divergente. Pior ainda são aqueles que acusaram os eleitores dilmistas de alguma cumplicidade com malfeitos, ignorando por completo os escândalos nos quais vários tucanos chafurdaram ao longo dos últimos anos, como o mensalão em Minas, a lista de Furnas, o trensalão, a privataria, a compra de votos para a reeleição, os aliados na diretoria da Polícia Federal e nos Tribunais de Contas, o “Engavetador Geral da República” no Ministério Público, o caso do Banestado, da Repsol, da Pasta Rosa, do SIVAM, entre tantos outros.

Por isso, não se arvore em “geniozinho da política”, dono da verdade ou de um intelecto superior, pois isso todos sabemos que você não é. Apesar das discordâncias, o respeito pela opinião alheia é fundamental. Afinal, não sei se outro candidato eleito poderia estar fazendo um governo melhor ou pior. E ninguém mais sabe, pois é impossível sabê-lo, principalmente se considerarmos os desmandos que conhecemos bem e que afetam praticamente todas as correntes mais fortes da política nacional. A inépcia das gestões tucanas em mais de duas décadas à frente do governo de São Paulo desencadeou graves crises no abastecimento hídrico, no setor elétrico e na capacidade de expansão da rede metroviária. Neste último caso, a causa principal foi um intrincado esquema de corrupção. Em Minas, uma aliança espúria com a mídia ajudou a esconder sérios problemas de planejamento e os efeitos declinantes daquilo que chamaram de “choque de gestão”.

Precisamos mesmo é aprender a encarar com maturidade as questões cruciais que se colocam à nossa frente, ao invés de agirmos como se estivéssemos em uma interminável campanha eleitoral. É preciso reconhecer a complexidade dos desafios e do cenário no qual deveremos enfrentá-los. Conseguiremos fazer progresso nos aparentes consensos que não avançam? Faremos as reformas política e tributária? Esses “consensos” são assim tão “consensuais”? Financiamento público de campanha? Voto em lista? Taxação de grandes fortunas? Impostos progressivos? Retorno da CPMF, com destinação exclusiva para a saúde? Avançaremos na regulamentação da mídia e do consumo de maconha, como fizeram outros países da América Latina, da Europa e até os Estados Unidos? Nos preocuparemos com a grande influência do poder econômico? Tomaremos medidas para evitar que a concentração de renda ameace a democracia?

É importante ter em mente que, em geral, os eleitores desejam mais ou menos as mesmas coisas, independente dos candidatos que escolheram: serviços públicos de qualidade, justiça ágil e imparcial, igualdade de oportunidades, respeito às liberdades. Discordam quanto a alguns dos métodos, mas concordam quanto a outros. Por isso, não há motivos para o desrespeito ou para o radicalismo. O problema não pode ser, simplesmente, a pessoa que está democraticamente incumbida de administrar as políticas públicas. A atitude de fazer ataques constantes a toda e qualquer medida do governo, como se não houvesse nada de positivo e, pior ainda, como se não houvesse a menor possibilidade de realização de algo assertivo, sempre irá cheirar a pura implicância. Um cansativo chororô.

Seria muito edificante se os embates fossem entre ideias, e não entre pessoas. É claro que as críticas são importantíssimas. Não desejo, de modo algum, uma população acrítica e passiva. Mas é imprescindível algum grau de construtividade, que se contraponha às reclamações vazias e incondicionais. Acompanhemos, fiscalizemos, cobremos. Denunciemos os desvios e abusos. Critiquemos os aspectos dos quais discordamos, mas destaquemos e estimulemos aqueles com os quais estamos alinhados. Torçamos pelo melhor. Sem perseguições idiotas, principalmente contra eleitores.

O nível de atenção pela política parece estar aumentando entre a população e isso poderá ser muito proveitoso para o país. Entretanto, ainda estamos em um estágio no qual pessoas que desconhecem as responsabilidades que cabem a cada esfera administrativa ou a cada um dos diferentes poderes da República sentem-se no direito de tratar com enorme descortesia aqueles que fizeram escolhas diferentes. Trata-se de um grande erro a ideia de que o eleitorado de um candidato compõe um grupo coeso e indissociável. Esses grupos são circunstanciais: constituem-se no momento do voto, mas desfazem-se logo em seguida. Não formam movimentos que se expandem para além do processo eleitoral. Nem Aécio nem Dilma mantêm cativos os donos dos votos que receberam. Os responsáveis por esses votos sequer existem ainda como grupos.

Somos tentados a achar que a prevalência de nossas escolhas seria a solução para todos os problemas. Nada mais distante da realidade. A opção por determinada corrente política em uma eleição é resultante de nossas opiniões pessoais, que, por sua vez, são consequência de nossas observações e conhecimentos. Tais opiniões têm o mesmo valor do que as de outras pessoas. Elas nem têm suas diferenças completamente aferidas na prática, visto que a alternativa derrotada não chega a ser implementada. Por isso, ficar repetindo o nome do candidato para o qual depositou seu voto não lhe torna uma pessoa melhor e nem lhe confere alguma superioridade. O necessário reconhecimento de que sempre se pode estar errado é o primeiro grande passo para o respeito.

Como possuo um grande interesse por política, há bastante tempo, continuarei a postar mensagens relacionadas ao assunto. Isso se dará, obviamente, em um ritmo bem menor do que aquele observado durante as eleições. Em alguns momentos, provavelmente, farei críticas a certas medidas governamentais. Em outros, destacarei aspectos positivos, inclusive para fazer um contraponto às críticas mais exageradas ou distorcidas. É como disse Luis Fernando Verissimo, em certa ocasião, numa entrevista para a tevê: às vezes, os ataques ao governo são tão desproporcionais e excessivos que, mesmo discordando de vários de seus aspectos, sentimo-nos impelidos a defendê-lo. Até para tentar trazer a percepção geral para algo mais próximo do real, visto que, muitas vezes, acaba-se por pintar uma situação tão caótica que, assim como o país das maravilhas de certos defensores, só existe nos delírios de alguns.

2 de dezembro de 2014

Coordenadas


Um lugar abaixo do nível do mar
ou acima da linha do céu.
Depois da fronteira do sul
ou além de onde repousa o sol.
Onde eu não enxergue tanto com os olhos,
e sim com a mente e com o coração.
Onde todos os sons se conjuguem
numa única e interminável canção.
Bela, tocante, perfeita...
Um lugar em que tudo o que há para se conhecer
coloque-se acessível diante da minha alma
sempre sedenta.
E que me cobre um esforço desafiador
para cada novo saber.
Esforço sempre e devidamente recompensado.
Um lugar, uma época, um pensamento,
um som, um sonho, um vento...
Onde eu me sinta em casa
mesmo quando estiver ao relento.
Onde a verdade preencha o vazio
que nunca teria seu tempo.

13 de setembro de 2014

Por que voto Dilma?



1. Uma obviedade em tempos de radicalismo

Voto em Dilma, em primeiro lugar, porque a considero a melhor opção dentre aquelas que se apresentaram e que possuem alguma chance de vencer as eleições. Isso não significa que eu a considere a governante perfeita, ideal. Já vi muita gente confundindo essas coisas. Mas não tem jeito: eleição, inescapavelmente, é comparação. Neste texto, farei o possível para ficar distante da truculência e da simplificação que toma conta das redes sociais. Trata-se de uma grande obviedade, mas que, em tempos de radicalismo, precisa ser dita: minha opção é tão legítima quanto qualquer outra. Tenho medo, inclusive, de que essa truculência burra e desmedida ameace uma das melhores tradições de nosso breve período democrático: o respeito aos resultados dos pleitos. O voto popular é, obviamente, o maior legitimador de qualquer governo. Por isso, seja quem for o eleito, irei torcer e empenhar meus esforços para que tudo dê certo.

2. Voto contra o preconceito contra o voto

Não sou filiado ao PT, não sou funcionário público, não recebo nenhum benefício financeiro direto do governo. Desafio, portanto, a lógica dos preconceituosos, que acreditam que o eleitorado de Dilma é composto apenas por analfabetos, nordestinos ou beneficiários de programas sociais. Para evidenciar que tal visão não se sustenta, tomemos a estratificação dos resultados das pesquisas eleitorais do pleito anterior: Dilma vencia em todos os segmentos socioeconômicos relevantes. Era a preferida entre homens, mulheres, católicos, evangélicos, pobres, ricos, classe média, beneficiários ou não de programas sociais. Perdia entre os muito ricos, provavelmente devido à distância entre os interesses destes e os do restante da sociedade. “Analfabetos e pessoas que estudaram, do primário à universidade, votam majoritariamente nela”, escreveu Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi. Os números de outros institutos, como o Datafolha, têm revelado cenários semelhantes. Nas pesquisas do primeiro turno, antes da queda, Marina ficava um pouco à frente entre os eleitores com curso superior, o que não é nenhum motivo para destilar preconceitos. Neste segmento, ela tinha cerca de 34% das intenções de voto, enquanto Dilma ficava com 28% e Aécio vinha atrás, com 25%. Ou seja, tanto Dilma quanto Aécio contavam com o apoio de boa parcela da porção mais instruída da população, Dilma à frente. Nem é preciso dizer que diploma não é sinônimo de inteligência, que esses números transformaram-se e já estavam bem diferentes no momento da votação e que, se fossem tomados os indivíduos com curso superior de determinadas regiões ou níveis de renda, os resultados seriam significantemente diferentes. Afinal, para nos contrapormos à discriminação idiota, basta escancarar um fato evidente: inúmeras pessoas inteligentes e bem informadas votam em Dilma, sim! Ela é apoiada por artistas e intelectuais renomados, como Chico Buarque, Chico César, Luis Fernando Veríssimo, Ziraldo, Leonardo Boff, Frei Betto, Antônio Cândido, Bresser-Pereira (um dos fundadores do PSDB), o neurocientista Miguel Nicolelis, os reitores de quase todas as universidades federais (que reconhecem o trabalho realizado na área da educação), entre outros.

É claro que o voto de todas as regiões do país tem o mesmo valor e não há nada de errado quando determinada região aprova um governo que beneficiou seu desenvolvimento, ao contrário do que pensam os intolerantes. Mas o fato é que, mesmo se não fossem contabilizados todos os votos do Nordeste, Dilma ainda teria sido eleita na disputa de 2010, pois foi expressivamente votada nos demais estados.

3. Ética, corrupção e o moralismo difuso

A questão ética é uma das mais importantes em uma eleição, mas é também a fonte de uma das maiores distorções políticas praticadas durante as campanhas: a exploração do moralismo difuso. Qualquer mente mais antenada ao mundo real sabe que o candidato que se diz contra a corrupção e promete combatê-la está “chovendo no molhado”. Na verdade, não está dizendo absolutamente nada. Alguém em sã consciência poderia conceber o candidato a favor da corrupção, que prometesse dedicar seus esforços a aumentá-la e disseminá-la por onde fosse possível? Espanta-me o modo como o reducionismo mais boçal ainda toma conta dessa questão nos dias atuais.

Nenhuma instituição, seja pública ou privada, está livre dos desvios éticos. E, a princípio, é impossível identificar os indivíduos que não estejam suscetíveis a incorrer em delitos, se é que eles existem. Mas é quase certo que a melhor aposta para amenizar as consequências nefastas das práticas condenáveis está mais no fortalecimento e no amadurecimento das instituições e de seus mecanismos de controle, e menos nas tentativas de formação individual. É assim que as democracias mais maduras encaram a questão. E Dilma já fez várias citações nesse sentido. Não existe democracia, por mais desenvolvida que seja, que não seja atingida por esse problema. Votar em candidatos de “ficha suja” é uma péssima ideia, é óbvio. E esse não parece ser o caso de nenhum dos postulantes ao cargo de presidente. Quem estiver procurando por santidade em meio à profusão de discursos padronizados e promessas vazias pode acabar fazendo besteira diante da urna. É claro que há inúmeros escândalos que envolvem a outra candidatura e sua coligação, mas evitarei listá-los sob este tópico, para não passar a impressão de que a questão pode ser reduzida a uma bizarra guerra de malfeitos.

Quanto aos aspectos práticos do combate ao problema, creio que a solução não seja nada parecida com a criação de comitês especializados em identificar honestidade (santos não existem), e sim o aumento do controle e o fim da impunidade. É preciso reconhecer que, ano após ano, o país tem avançado na instrumentalização e na consolidação dos órgãos e ferramentas de fiscalização e punição. Saímos da era do “Engavetador-Geral da República”, quando as mazelas eram simplesmente varridas para debaixo do tapete e o diretor da Polícia Federal era filiado ao partido do governo, e hoje temos a CGU como ministério, uma grande autonomia do Ministério Público (a lista tríplice é respeitada), a Lei da Ficha Limpa, a Lei do Acesso à Informação e o Portal da Transparência. A autonomia e a quantidade de operações da Polícia Federal aumentaram drasticamente. Como em outras áreas, é bem provável que ainda estejamos distantes da solução ideal, mas esta não será atingida da noite para o dia. Não existem soluções milagrosas. Portanto, é preciso parar com essas bobagens de achar que o eleitor está “defendendo corruptos”, ou que, a cada escândalo divulgado pela mídia, irá sair trocando de candidato, como se todos os casos anteriores não mais existissem.

4. O caminho que quero percorrer

A capacidade técnica do governante é essencial, mas a comparação entre projetos e a clareza a respeito do que se pretende não podem ficar de lado durante as eleições. Não estamos escolhendo um administrador de condomínio. Quando o objetivo é governar um país, há tanta coisa em jogo que se torna imprescindível resgatar o significado mais profundo da política e desmistificar o que vêm a ser as ideologias, retirando o caráter pejorativo que costuma ser empregado quanto a elas. Afinal, são as ideias que influenciam as ações que, por fim, irão gerar as transformações. Não me refiro à grande bobagem de prender-se a ideias preconcebidas e imutáveis, mas sim ao projeto com que cada candidato está alinhado.

Meu voto será consequência óbvia do projeto que aprovo: desenvolvimentista, social, com distribuição de renda, e que costuma encarar com um pouco mais de frequência discussões sobre direitos básicos e inerentes à democracia, sem esquecer minorias ainda prejudicadas. Não me interessa um representante que seja muito bom naquilo que faz, mas que não esteja comprometido com as causas que considero mais adequadas ao país, como o desenvolvimento da agricultura familiar, a redução das desigualdades sociais, o controle do fluxo de capital especulativo, o investimento massivo em obras estruturantes, etc. Por isso, não existe essa história de “governar com os melhores”. Os melhores segundo quem? Os melhores para quê? O governo deve ser construído junto àqueles que foram democraticamente eleitos. E, para melhorar nosso quadro representativo, a opção mais certa é a melhoria da qualidade da educação e a consequente politização da sociedade, o que certamente elevará o nível do debate. Enfim, não estou em busca apenas de bons administradores. Não é minha intenção eleger alguém que seguirá com muita competência pelo caminho que não aprovo.

5. Os avanços: O Brasil não é cor-de-rosa, mas não também não é cinza

Os avanços conquistados durante os governos trabalhistas são de conhecimento de grande parcela da população, mas muitos deles só passaram a ser mais conhecidos durante o período de campanha eleitoral, haja vista o comportamento sensacionalista da grande mídia, que costuma destacar apenas o que não está bem.

Um enorme contingente de pessoas foi retirado da miséria. Outro tanto teve melhoras inéditas no poder aquisitivo e no padrão de vida. A ONU acaba de reconhecer que, nos últimos dez anos, o Brasil reduziu pela metade a população que sofre com a fome, cumprindo um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, fixados pelas Nações Unidas. Fomos citados como um dos melhores exemplos no combate à desnutrição e à pobreza. Tornamo-nos um grande exportador em diversos setores, reconhecidos e respeitados internacionalmente. Junto aos parceiros dos BRICS, temos ajudado a redesenhar a organização mundial. Somos, inclusive, o país mais democrático do grupo. Com o Marco Civil da Internet, lideramos, no mundo, as iniciativas que visam à liberdade, à privacidade e à neutralidade da rede. O nível de desemprego está baixo há vários anos, bem abaixo dos índices de países ditos desenvolvidos. O país conseguiu superar de forma bastante satisfatória uma das maiores crises internacionais de todos os tempos, cujos efeitos ainda abalam vários países, inclusive do “mundo desenvolvido”. Os impactos foram menores por aqui, graças ao fortalecimento do mercado interno e à diversificação dos parceiros no comércio exterior, a qual reduziu a dependência em relação a nações específicas.

Tivemos também a redução da taxa de juros (que acabou sendo elevada depois, devido a certa ortodoxia no combate à inflação, mas sem retornar aos patamares de dez anos atrás), a pressão pela redução dos abusivos “spreads” bancários, a diminuição das tarifas de energia elétrica, a equiparação dos direitos trabalhistas dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores. A média de juros reais é a menor dos últimos governos. A quantidade de estudantes aumentou muito, a mortalidade infantil diminuiu. Apenas 32 cidades têm IDH municipal muito baixo (no ano 2000 eram 2328). Programas como “Luz para Todos”, “Minha Casa, Minha Vida” e aqueles ligados à educação (Pronatec, FIES, ProUni, Enem, sistema de cotas) mudaram para melhor a vida de muitas famílias, renovando suas esperanças e, principalmente, a de seus filhos, que começaram a planejar caminhos diferentes daqueles percorridos pelas gerações anteriores. Não concordo com vários aspectos da forma como foram feitas, aparentemente sem um planejamento de longo prazo, mas tivemos ainda desonerações fiscais, como incentivo à indústria, às pequenas empresas e aos trabalhadores individuais.

As solicitações nos cartazes das manifestações de 2013 eram de natureza diferente das tradicionais manifestações trabalhistas: desta vez, estavam mais voltadas à situação das cidades. Levantamentos do DIEESE demonstram que, na última década, houve uma alteração no perfil das greves, cujas reivindicações passaram de defensivas (com o intuito de reclamar direitos usurpados, como salários atrasados) para propositivas (com a finalidade de conquista de novos direitos, como maiores aumentos reais dos salários e redução da jornada de trabalho). Sinal de que vivemos outros tempos, distantes daqueles nos quais o presidente fazia um pronunciamento anunciando a necessidade de aumento de impostos, em meio a desemprego, arrocho salarial, previsão de flexibilização de direitos trabalhistas, apagão energético em consequência de ausência de planejamento para o setor, submissão a interesses estrangeiros em troca de empréstimos financeiros, desmonte da estrutura estatal. A Petrobras, que, naqueles tempos, estava prestes a tornar-se “Petrobrax” e, muito provavelmente, ser entregue ao controle da iniciativa privada, hoje bate recordes de produção e acabou servindo de apoio, nos governos trabalhistas, a várias políticas desenvolvimentistas importantes, como a reestruturação da indústria naval e o benefício a vários outros ramos industriais, através da lei do conteúdo nacional.

É importante reconhecer também os méritos dos governos anteriores, como a aceleração do processo de estabilização econômica. E é claro que ainda há muito a avançar. Muitos acusam o governo de dizer que está tudo bem e de pintar um “Brasil cor-de-rosa”. Não vejo tanto isso, pelo menos não em um nível que ultrapasse o aceitável para uma campanha eleitoral. Ninguém espera, afinal, que um postulante à reeleição use sua propaganda para mostrar o que está ruim, não é? Em várias ocasiões, Dilma deixou claro que o país padece de inúmeros problemas. Seria insensatez se fizesse o contrário, pois há coisas que não há como esconder. No entanto, não devem ser ocultados os avanços, como o aumento do volume de investimentos em saúde, educação, mobilidade urbana e habitação social.

6. Um projeto em construção contra uma candidata em fragmentação

Sabemos que as reivindicações das manifestações de 2013 foram difusas e subjetivas. A reação de Dilma foi tímida, abaixo do esperado, mas é verdade que os pactos propostos já renderam alguns bons frutos. Fiquei bastante esperançoso com a sinalização de que a sociedade, finalmente, passaria a ter um maior interesse por política. Não esperava, entretanto, que as reivindicações difusas fossem acabar desaguando em uma candidata difusa. Marina comportou-se como Serra em 2010: a vitória parecia ter se tornado um objetivo a ser alcançado a qualquer custo. Convicções históricas foram abandonadas com extrema facilidade em troca de dividendos eleitorais. O deslocamento ideológico apareceu claramente e, pior ainda, as contradições: dependendo do público a ser conquistado, o discurso mudava radicalmente e entrava em conflito com o que havia sido dito antes. A melhor definição foi dada por Gustavo Castañon, doutor em Psicologia e professor de Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, que se desfiliou do PSB após a candidata revelar sua verdadeira faceta (ou facetas): “Marina Silva é uma alma em liquidação”. Boa parte da intelectualidade começou a abandonar a opção pela candidata ao perceber seu comportamento e seu novo alinhamento.

O engraçado é que o jornalista de economia Luis Nassif fez uma análise semelhante sobre uma entrevista de Eduardo Gianetti, uma das cabeças que influenciam Marina, principalmente na área econômica: “Ele vai despejando medidas, parecendo atender às demandas de cada grupo aliado, sem conseguir desenhar o cenário resultante. É como se cada medida bastasse a si própria, sem consequências para o todo”. No caso da candidata, ocorreu exatamente o mesmo: as peças espalhadas a cada discurso não se encaixavam. Não havia um projeto, mas apenas um conjunto de promessas que visavam agradar aos mais diferentes públicos, com os mais distintos e conflitantes interesses, compondo um programa de governo no qual uma linha anulava a capacidade de realização de outra. Programa de governo, aliás, que foi acusado de conter cópias idênticas de conteúdos de diferentes fontes, sem autorização e sem os devidos créditos. Quando a cópia não era literal, o direcionamento era o mesmo, o que acabava revelando que a tal “terceira via” era uma farsa: tratava-se da “segunda via” disfarçada, isto é, uma segunda chance de as mesmas pessoas retornarem ao poder. Desde o início, nos apoios e na formação da coligação, já estavam por trás da candidatura de Marina figuras como Heráclito Fortes, Roberto Freire e os Bornhausen. Se tivesse passado para o segundo turno, teria, provavelmente, os apoios de Agripino Maia e grande parte da turma tucana. Com PPS, DEM e figuras como essas, onde estaria mesmo a “nova política”?

Não sei se era a intenção da candidata, mas o fato é que ela atraiu como um ímã os representantes da direita mais conservadora e reacionária. A mesma direita conservadora que agora se alinha automaticamente a Aécio. Incluem-se aí os pastores Malafaia e Feliciano, a família Bolsonaro e até o Clube Militar, cujo apoio mais atrapalha do que ajuda, devido a manifestações contra “a possibilidade de 24 anos dessa RAÇA no poder, se o Lula SOBREVIVER” (grifos meus). É importante lembrar que também existem figuras execráveis no atual governo, graças às alianças espúrias com vistas à governabilidade, prática padrão em qualquer governo desde a redemocratização. Porém, não é Dilma quem está falando em “nova política”: sua proposta é a de continuar um projeto que vem sendo desenvolvido nos últimos anos, incorporando novas mudanças, inspiradas pelas demandas colocadas pela população, principalmente no decorrer das recentes manifestações. Apesar das concessões, é possível perceber uma linha coerente e consistente nesse processo. A lei de participação popular, tão criticada pelo lado mais atrasado da imprensa, pretende justamente acelerar esse movimento, casando a execução das políticas públicas com os anseios sociais. Quanto à renovação dos quadros, vale a pena destacar novamente que está nas mãos dos eleitores a retirada do fisiologismo do poder.

É preciso deixar claro que não há nenhum problema em rever as opiniões ao longo da vida. O estranho é que isso ocorra de forma abrupta e a todo momento, como se percebeu em Marina, num incessante vai-e-vem, claramente ao sabor dos interesses imediatos. Uma das mais gritantes reviravoltas deu-se em relação à CLT: um dia após declarar que iria atualizar as leis trabalhistas e ser criticada pelas entidades ligadas aos trabalhadores e confrontada por Dilma, que disse que não faria reformas na legislação do trabalho “nem que a vaca tussa”, Marina afirmou que “os direitos dos trabalhadores são sagrados”. Mesmo tendo se referido a um tema tão importante e delicado, ela esquivou-se de citar quais medidas constariam da atualização que havia proposto, apostando, mais uma vez, no discurso vago para fugir das polêmicas. A candidata também começou a mostrar-se muito pouco receptiva a críticas: junto a certos setores da imprensa, iniciou um processo de autovitimização tão insistente, que acabou por comprometer a confiança do eleitorado quanto à sua firmeza e a necessária capacidade de suportar as pressões do cargo que pretendia ocupar. O engraçado é que, no segundo turno, Aécio parece ter herdado o comportamento de vítima, pois, seguindo uma planejada estratégia de publicidade, passou a agir como se sua campanha não fizesse ataques e não distorcesse informações, tentando induzir o eleitor a pensar que as atitudes mais combativas são exclusividade da propaganda adversária.

Mesmo fora da disputa, Marina conservou a frenética metamorfose. Tinha afirmado que não subiria em palanques do PSDB, mas declarou apoio a Aécio. Condicionou esse apoio a algumas concessões, como o abandono do projeto de redução da maioridade penal e o fim da reeleição. A candidatura tucana rejeitou as propostas, mas mesmo assim Marina garantiu o apoio, em mais uma mudança de postura. Esta, no entanto, pode ter enterrado definitivamente o discurso do "novo" e da "terceira via".

7. A oposição quer colher os bons frutos que não plantou

O país está prestes a ser beneficiado por muitas medidas que foram implementadas nos últimos anos. E a “oposição brasileira quer colher aquilo que não plantou”, nas palavras do respeitado cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. Ele diz que “o Brasil investe, desde 2007, em infraestrutura e políticas públicas historicamente vetadas pelas elites. (...) Poucas vezes o Brasil tentou empreender um ciclo econômico mais expansivo para o desenvolvimento humano”. Esses investimentos permitiram ao país “trilhar rumos diferentes dos ditados pelas potências do centro econômico”. Isso ajudou o Brasil a não ser tão afetado pelos efeitos da grande crise. Wanderley continua: “Durante décadas, o Brasil, seus governantes e mesmo seu empresariado nascente não estavam dispostos ou preparados nem para sonhar com um país moderno, economicamente forte, aquilo que eles diziam que queriam. Na década de 1930, o debate fundamental era se o Brasil só devia exportar ou se devia criar indústria. Então, durante todas essas décadas, em não havendo sonho da possibilidade de um país moderno, não foram lançadas as condições básicas dessa modernidade: rodovia, ferrovia, aeroportos, transportes hídricos, nada. Isso tem a ver com o PIB, hoje dito pequeno, e do qual a oposição brasileira deseja se aproveitar nos próximos anos. O que está acontecendo agora é justamente um investimento maciço naqueles setores, nas condições absolutamente necessárias para o crescimento do PIB. Porque no contexto existente não haveria mais como crescer o PIB, não tem mais pra onde andar o agronegócio, não tem como as empresas industriais crescerem. Então, o Brasil cresceu enquanto foi possível. Para crescer mais, não tem jeito: tem de expandir isso. E isso, obviamente, enquanto está sendo feito, reduz um pouco a capacidade de crescimento. Agora, a partir de 2016, 2017…”. Ou seja, a oposição poderia estar no poder no momento em que o PIB voltasse a crescer em um ritmo maior, em decorrência das inúmeras obras de infraestrutura em andamento no país. A mesma oposição que adora apontar os atrasos em obras grandes e complexas do governo e que insiste em ocultar que um dos grandes problemas dos governos anteriores foi exatamente a ausência de obras de infraestrutura. Obras que não atrasavam porque, simplesmente, não existiam.

Além disso, é bem possível que tenhamos grandes avanços nas áreas de educação e saúde, graças à lei de destinação dos “royalties” do petróleo (75% para a educação e 25% para a saúde) e da garantia de 10% do PIB para a educação. Merece ser citado o fato de que, segundo relatório da OCDE, o Brasil já destina mais de seu PIB para a educação do que países ricos: em 2011, foram 19% do gasto público para esta área, acima da média de 13% estabelecida pela organização.

8. Boataria.com: A necessidade de despoluir o debate

Boatos, bobagens e mentiras são uma praga que circula pela internet, pelas campanhas oficiais e até pela imprensa. Alguém se esqueceu da ficha falsa da Dilma que o jornal Folha de S. Paulo publicou, dizendo ser dos arquivos do DOPS, mas que era, na verdade, uma montagem extremamente mal feita que circulava em spams? E o escândalo da bolinha de papel na tevê ou as capas bombásticas sobre situações nem remotamente verificadas? Percebo claramente que Dilma é a maior vítima da boataria descontrolada. Sobra também alguma coisa para os demais candidatos, mas até os sites especializados em desmentidos confirmam que o PT é mesmo o alvo preferido. Parte da explicação reside no fato de que o partido está no poder há muito tempo e, portanto, há um desgaste natural de sua imagem. A lembrança dos períodos anteriores vai se esvaindo, ao contrário dos acontecimentos dos últimos anos. Assim, os ataques, mesmo os falsos e exagerados, acabam se concentrando nos atuais ocupantes do poder. Outro fator que ajuda a explicar é a má-fé mesmo. Até quando não estão mentindo, a maioria dos ataques ainda é partidária, pois se concentra em um único lado. Se o objetivo fosse escandalizar sem partidarismo, então os escândalos da oposição também deveriam ser insistentemente divulgados e relembrados, como o mensalão tucano, a lista de Furnas, o trensalão (que se perpetuou por tanto tempo porque um dos envolvidos estava no Tribunal de Contas, o que expõe mais uma vez o "modus operandi" dos tucanos), o mensalão do DEM, as intervenções de FHC em favor de Arruda, a privataria, o caso da Repsol (um dos mais polêmicos escândalos da Petrobras), a compra de votos para o projeto da reeleição, as irregularidades na contabilidade da campanha de Marina, entre tantos outros.

Por isso, não custa nada lembrar, mesmo que, para muitos, já bastante contaminados, pareça loucura: Lula não está entre os homens mais ricos do mundo e nunca esteve na capa da revista Forbes por esse motivo. Nem ele nem seus filhos são donos de extensas propriedades rurais no país (engraçado como ninguém se preocupa com o valor da fortuna de FHC, Aécio ou da família de Serra). As falsas postagens sobre esse assunto costumam até ser ilustradas, mas com a foto de uma escola superior de agricultura ligada à Universidade de São Paulo. O filho de Lula não é dono da Friboi. Não existe “bolsa-reclusão”, “bolsa-presídio”, nem nada com esses nomes ou que funcione da forma como os farsantes costumam divulgar (detalhe: o seguro de “auxílio-reclusão”, do INSS, é outra coisa, completamente diferente, e não tem nada a ver com o atual governo). Nenhuma reportagem foi impedida de ir ao ar na tevê pelo governo, pelo menos nos últimos vinte anos. Se você está assistindo a uma reportagem de tevê em uma rede social, pode ter quase certeza de que a mesma foi ao ar, mesmo que o texto de apresentação diga o contrário. É bem provável que muitas das frases revoltantes que você atribui a determinadas figuras públicas nunca tenham sido ditas. Não pesa contra Dilma nenhuma acusação de corrupção ou de qualquer desvio ético.

Os boatos mais bem construídos são aqueles que misturam informações verdadeiras, que podem ser verificadas, com distorções e mentiras. Por isso, é preciso ser muito cauteloso frente ao que nos é apresentado. Veja-se, por exemplo, o caso do porto de Cuba: o governo brasileiro não doou dinheiro para aquele país, muito menos por generosidade; o que houve foi que o BNDES financiou empresas privadas brasileiras, com aquisição de 80% dos materiais no Brasil, o que movimenta a economia e paga boa parte do investimento, que ainda será devolvido normalmente, como qualquer financiamento. Procure pelo vídeo em que o diretor da FIESP (da FIESP!) explica sobre a importância do empreendimento para os interesses comerciais e econômicos brasileiros no Caribe e no restante da América Central. E nunca nos esqueçamos de que o governo deve sempre girar vários pratos ao mesmo tempo: não se pode esperar pela solução dos problemas de uma área específica antes de partir para as demais, como o comércio exterior e os dividendos que dele podem advir. No caso da refinaria de Pasadena, costumam ocultar que, no conselho de administração, também estavam Jorge Gerdau Johannpeter (presidente do Grupo Gerdau), Cláudio Haddad (economista e empresário), Fábio Barbosa (presidente da Editora Abril), Roger Agnelli (ex-Vale), Arthur Sendas (da rede de supermercados), entre outros. Ignoram, ainda, que o delator atualmente nas manchetes é funcionário de carreira da Petrobras: está na empresa desde o final da década de 70, teve suas primeiras indicações políticas logo no início do governo FHC e foi afastado por Dilma. Da dúzia de nomes que constam no vazamento de seu depoimento, quase metade está ligada ou apoiou as outras candidaturas, mesmo aqueles que se encontram em partidos que fazem parte da base aliada. E quanto às bobagens de comunismo, “bolivarianismo”, “venezuelização”, alinhamento com Cuba, etc.? Isso é tão primário, que o sujeito que se sai com essas pérolas já denuncia não saber nada do que está dizendo e, de quebra, demonstra desconhecer um mínimo de história.

Há inúmeros outros casos de boatos, mas muitos lerão as informações que acabo de apresentar e pensarão: “Quanta mentira!” ou “Que sujeito inocente!”. Ora, tome tento, seu abestado! Você está sendo ludibriado diuturnamente por bobagens que nem sabe de onde surgiram e ainda se considera dono da razão?! Caso tenha alguma dúvida sobre algum dos casos citados ou outro qualquer, sinta-se à vontade para pedir mais informações. Faça uma pesquisa na internet, mas em sites confiáveis. Existem páginas especializadas em desmentir boatos que circulam pela rede, como o boatos.org e o e-farsas.com. A imprensa, mesmo um tanto desacreditada, ainda pode ajudar. Você acha que, caso essas e outras notícias fossem verdadeiras, não teriam sido insistentemente divulgados pela mídia? Agora, se você é daqueles teoristas da conspiração, que acreditam que toda a mídia é manipulada por forças vermelhas, tudo bem; só não venha com conversa fiada para o meu lado.

Não se trata, é claro, de fazer a defesa incondicional daqueles que decidimos apoiar. É claro que existem falhas em todos os candidatos e partidos. O problema é que as bobagens sempre tomarão o espaço do debate necessário enquanto o denuncismo fácil grassar por todos os lados: qualquer pessoa sente-se no direito de fazer acusações contra qualquer outra, mesmo que não consiga apresentar elementos comprobatórios ou indícios suficientes. Portanto, tratemos com muita cautela e responsabilidade os textos de origem duvidosa que circulam por aí. Pense: até que ponto aquilo que você acha que conhece a respeito de alguém ou algo é mesmo verdade? Você seria capaz de tentar livrar-se dos conceitos formados a respeito de pessoas, movimentos, instituições, procurando identificar as peças de informação que o ajudaram a construir tais conceitos, refletindo sobre a possibilidade de ter internalizado certos dados mais por repetição do que pela possibilidade de verificação de sua veracidade? Livremo-nos, então, das asneiras que só servem para desviar o foco do verdadeiro debate político!

9. O eleitor do qual estou mais distante

Sempre digo que não basta observar o que dizem os candidatos durante a campanha. Afinal, eles sempre dirão aquilo que os eleitores esperam ouvir. É preciso buscar informações sobre os mesmos nos mais variados meios. A utilização de um número restrito de fontes de informação acaba resultando em visões tendenciosas, direcionadas pelos órgãos escolhidos. Ouvir outros eleitores pode fornecer boas pistas sobre o alinhamento ideológico dos candidatos. O tipo de eleitor que o candidato seduz costuma denunciar parte de suas intenções. Cada pessoa vota em quem bem entender, seja movida pelos próprios interesses, seja inspirada pela possibilidade de ampliação do quadro de justiça social, seja por uma combinação destes ou de quaisquer outros fatores, mas quando vejo nas colunas sociais dos jornalões as preferências eleitorais da “high society” frívola, principalmente das “socialites”, confirmo que, definitivamente, não estamos do mesmo lado.

É preciso reconhecer que, do lado de Dilma, existe muita gente insuportável. Entretanto, focarei aqui em um espécime pela qual não consigo cultivar um mínimo de simpatia: aquele sujeito elitista, conservador, um tanto preconceituoso, reacionário e arrogante. Aquele cidadão de classe média, com curso superior e talvez uma pós-graduação, assinante de um grande jornal ou revista, e que acredita que isso é o bastante para se considerar especialista em política e desprezar as opiniões alheias. É, aquele que jura que sabe mais do que todo mundo. Que reclama das pessoas mal vestidas nos aeroportos e do fato de o porteiro também poder assistir a espetáculos na Broadway, mesmo que mediante o pagamento de infinitas e suaves prestações. Ele não tem necessariamente todas essas características, mas geralmente vive na região Sudeste, com boa situação financeira. Adora criticar a capacidade intelectual dos nordestinos, o Bolsa Família, e, às vezes, diz até que sente saudades da ditadura. Não estou generalizando e dizendo que todos os eleitores de Aécio são assim. Longe disso. Mas pergunte a esse indivíduo ou a qualquer outro um pouco parecido sobre o candidato que ele escolheu. Você não terá nenhuma surpresa.

10. A revolução silenciosa

Muitas pessoas acreditam que a profunda transformação social que ganhou força durante os governos Lula teria estancado com Dilma. Entretanto, dados do IPEA divulgados pelo jornal Valor Econômico demonstram que “os ganhos sociais continuaram a se expandir no atual governo. Mais que isso, a ascensão dos mais pobres se acentuou no governo Dilma”. De acordo com Marcelo Neri, comandante da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, “o topo da pirâmide está crescendo muito abaixo da base nos últimos 12 anos. (...) Tem um Brasil das contas nacionais, que governa a maioria das análises econômicas, e há um Brasil que visita as casas das pessoas, que é o das pesquisas domiciliares. Um está descolado do outro. Os brasileiros que estão mais próximos da parte superior da distribuição têm uma dificuldade grande de ver o Brasil profundo. A transformação está acontecendo lá embaixo. (...) Em 2012, que é um ano totalmente Dilma, os 10% mais pobres tiveram crescimento de renda de 14% no ano. (...) Quanto mais você se distancia da média e foca nos mais pobres, a melhora social é mais acentuada. E isso fica mais forte no governo Dilma. (...) A renda de mulheres, negros e periferia é destaque do Brasil, seja nos últimos 12 anos, seja no último ano, em termos de renda do trabalho. (...) Isso é expectativa de vida, educação e renda também. A mortalidade infantil caiu 47% em 10 anos. O que é mais estrutural que isso?”.

11. É a economia, amigo! A economia e muito mais!

Na área econômica, o Brasil teve uma trajetória diferente daquela de vários outros países, pois abandonou um pouco a ortodoxia e adotou medidas inéditas, algumas delas distantes dos manuais tradicionais. Maria da Conceição Tavares, uma das mais importantes economistas da linha desenvolvimentista, classificou o atual estágio como o modelo da democracia social, que seria, segundo ela, irreversível. Relatório do Banco Mundial aponta que pouquíssimos países superaram de forma tão satisfatória a recente crise global, sem desempregar e mantendo fortalecida a economia interna. Os destaques foram o Brasil e a China. E, acompanhando o bom desempenho dos indicadores socioeconômicos, o empresariado e o investidor não foram abandonados: o lucro líquido das 326 empresas de capital aberto cresceu, no segundo trimestre de 2014, 11% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao desconsiderar as estatais, o lucro subiu 48% em 2014. As reservas internacionais encontram-se em um patamar bastante elevado e garantem uma importante proteção contra crises. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabucco, declarou: “A retomada dos investimentos vem de qualquer maneira no ano que vem. O ano de 2015 será de maturação das concessões e terá um fluxo de investimento maior do que o dos últimos dois anos. O agronegócio vai seguir sendo uma locomotiva do país”. Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e cientista político, um dos fundadores do PSDB, já deixou clara sua opção por Dilma. Benjamin Steinbruch, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), declarou que também pode votar nela, desde que atendidas umas poucas condições (algumas delas fora de cogitação pela presidente, mas democracia é isso aí). O jornalista Luis Nassif constata que Dilma perdeu boa parte do apoio dos industriais devido ao voluntarismo e à pessoalidade das medidas adotadas e à ausência de um plano de ação, apesar de ser a candidata que mais se alinha ao setor: “ampliou o escopo do BNDES, distribuiu isenções fiscais, implementou a desoneração da folha de salários, definiu políticas industriais, avançou no conceito de conteúdo nacional nas compras públicas, montou parcerias com as confederações empresariais, especialmente a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNA (Confederação Nacional da Agricultura)”.

Muitos países, como a China, têm procurado adotar medidas mais heterodoxas, com vistas à preservação dos empregos. Apesar disso, tanto Marina quanto Aécio apresentaram para a área ideias antigas, muitas delas já abandonadas no restante do mundo após a crise do liberalismo descontrolado. Enquanto o mundo busca regulamentar seus sistemas financeiros, visto que a desregulamentação foi uma das principais causas da crise, os candidatos oposicionistas falam em independência institucional do Banco Central (não confundir com a autonomia operacional atualmente praticada), tarifaço, abertura econômica (sem deixar claro os termos das necessárias negociações), “tripé econômico”, “Conselho de Responsabilidade Fiscal” independente (independente de quem?), com poderes de decisão sobre o investimento público, diminuição da participação dos bancos públicos e reformulação do mercado de crédito (a fim de reduzir ou acabar com o crédito público subsidiado), mas não divulgam os efeitos que podem daí decorrer. Ofereceram um retorno a Armínio Fraga ou a André Lara Resende. O primeiro, com FHC, deixou um país com baixo crescimento, juros estratosféricos, dólar em quase quatro reais e inflação de dois dígitos. O segundo, que fez fortuna com informações privilegiadas nos primórdios do Plano Real e que hoje defende um estranho conceito de sustentabilidade (agora que ele já cresceu sem ter pensado nisso), é autor de frases como: “No mundo em que a taxa de retorno do capital é superior à taxa de crescimento, a possibilidade de se fazer fortuna - ainda que só às custas das velhas fortunas - contribui para a que a desigualdade seja mais TOLERÁVEL” (grifo meu).

Essas ideias devem fazer brilhar os olhos dos banqueiros e especuladores (esses mesmos que especulam até sobre pesquisas eleitorais, em grande parte devido às incertezas quanto ao futuro, causando uma frenética variação de indicadores às vésperas das eleições). O restante da população, no entanto, recebe um outro discurso (ou vários outros) e a discussão, simplesmente, não acontece. Concordo com o auditor fiscal Charles Alcântara, que participou da tentativa de fundação da Rede Sustentabilidade, mas que acabou declarando apoio a Dilma. Ele acha que há dois projetos em jogo: a adesão a um neoliberalismo fora de época, proposta por Aécio e Marina, e uma tentativa de revisão do modelo, defendido por Dilma.

Até mesmo o Banco Central Europeu tem ido contra o tal “tripé”, ao propor uma drástica redução dos juros e estimular o crédito, através de punições aos bancos que “estacionam” o dinheiro para não emprestar. Já passa da hora, inclusive, de rever o modelo de metas inflacionárias, que restringe os mecanismos de controle da inflação à manipulação da taxa de juros.

Economistas de visão restrita e reducionista, que parecem considerar a economia uma ciência exata, acabam pregando certas medidas como se fossem cânones, mesmo que tenham dificuldade em apresentar motivos que vão além de um simples “assim tem funcionado”. O momento clama por soluções responsáveis e não-convencionais, inspiradas por aquelas adotadas na superação da crise. A equipe de Dilma adota uma estratégia defensiva, a fim de preservar os indicadores sociais mais importantes e, na medida em que a recuperação se consolidar, a substituição por um esforço mais agressivo, visando à retomada de um crescimento com responsabilidade, sem reajustes bruscos e desestabilizantes, como os propostos pela oposição. Neste momento em que o mundo celebra a obra “O Capital no Século XXI”, de Thomas Piketty, e descobre que a concentração de renda contribui para o esfacelamento da democracia, prefiro o modelo que olha para bem mais indicadores do que aqueles considerados pelo economicismo tradicional.

12. Para continuar a caminhada

O que direi agora é uma visão pessoal e bastante subjetiva, mas não vejo a sucessão política brasileira como um pêndulo. Aqui, desde a redemocratização, percebo um avanço em direção ao progressismo. Saímos de Sarney para Collor, responsável pela modernização de alguns setores. Então, fomos para a socialdemocracia, que ainda era relativamente bem representada pelos tucanos. Em seguida, com Lula e Dilma, entramos na economia socialmente responsável e no capitalismo de Estado. Já há alguns anos, venho aguardando o surgimento de uma nova oposição, capaz de compreender as reais necessidades do país e de ampliar o processo de transformação pelo qual estamos passando. Essa transformação é o grande fato novo da política nacional, pois é algo extremamente recente numa história que sempre privilegiou os mesmos setores. Por isso, acredito que a renovação surgirá, necessariamente, do lado esquerdo do espectro político.

A “nova política” não pode ser uma “negação da política”. Ela dificilmente surgirá do PSDB, dado o comportamento de seus velhos caciques. Poderia ter sido Marina, mas ela preferiu representar uma corrente já conhecida, misturada a boas doses de moralismo difuso e uma profusão de propostas fáceis e abstratas. Com a velha direita na bagagem, Aécio governaria com ela ou teria dificuldades de obter apoio. Neste caso, poderia sucumbir às mais diferentes pressões, cenário em que os detentores do poder econômico costumam largar na frente.

Já tratamos, em outro tópico, da questão do preconceito contra o eleitorado. Retomarei o tema para sublinhar que ele resulta, em parte, de certo grau de preconceito contra a própria presidente. Já vi muitas conclusões sobre sua capacidade intelectual baseadas unicamente em seu discurso mais pausado e truncado, ou em trechos descontextualizados de pronunciamentos e entrevistas, principalmente de sabatinas pré-eleitorais, onde os repórteres estão mais interessados no confronto e na própria projeção do que nas respostas do sabatinado, ou de debates cronometrados, nos quais o curto tempo para as respostas privilegia a superficialidade e as frases de efeito. Sugiro a estes analistas apressados que procurem por manifestações mais livres, em programas de entrevistas fora de períodos eleitorais ou em coletivas de imprensa com um direcionamento mais sério. Dilma costuma demonstrar um conhecimento detalhado a respeito dos dados envolvidos na administração pública. Nunca vi Aécio fazer publicamente, por exemplo, análises sistêmicas tão abrangentes quanto às da atual ocupante do palácio. Além disso, ela demonstra possuir uma maior bagagem cultural e literária (ou, pelo menos, costuma sacar com mais frequência os artefatos desse baú) e explora com um pouco mais de profundidade as questões tratadas. Alguns exemplos: enquanto os oposicionistas falam em reduzir o crédito direcionado de forma genérica, em cortes de gastos públicos e da necessidade de melhoria da qualidade do sistema de saúde, a presidente compara, mesmo que de modo resumido, os impactos da redução sobre cada setor, indica com mais clareza as áreas onde realmente é possível obter algum ganho e disseca, com um bom grau de realismo, as atuais perspectivas e limitações do governo, terminando por propor alternativas não redentoras, mas coerentes e verossímeis (como no caso da necessidade de integração com a rede privada para aprimorar o atendimento de especialidades médicas). É claro que o fato de atualmente ocupar a presidência concede a Dilma alguma vantagem no domínio de certas informações. Não pretendo inverter os ataques rasos e rebaixar o outro candidato, até porque estamos no terreno das percepções pessoais, mas apenas apontar que há exageros nas críticas e que muitas das análises sobre a intelectualidade da presidente podem prestar-se mais a piadas e chacotas do que a um entendimento mais claro da realidade.

O fato de a visão aqui apresentada ser um tanto pessoal e subjetiva, porém sem abandonar a racionalidade, não representa nenhum problema: o modo pelo qual o eleitor se convence de que Aécio poderia ser uma melhor opção do que Dilma também é pessoal e altamente subjetivo. E nossa maior diferença reside exatamente aí: a candidatura oposicionista não conseguiu convencer-me de que fará um governo melhor, com melhores mecanismos de combate à corrupção e mais próspero para a maioria da população. Por isso, prefiro dar a Dilma a chance de mostrar que pode aprofundar ainda mais as mudanças iniciadas nos últimos anos. Desse modo, sinto que, pelo menos, não estarei dando um passo para trás.

13. Não existe chegada

Durante os períodos eleitorais, é comum que se intensifique o surgimento de inúmeras informações descontextualizadas, distorcidas ou, simplesmente, falsas, com os mais diversos objetivos. Isso pode afetar todos os candidatos. Por isso, para o cidadão que acompanha os acontecimentos políticos superficialmente, através apenas dos meios de comunicação mais acessíveis, ou que se interessa pelo assunto somente nos períodos de campanha, torna-se muito difícil tomar uma decisão com confiança. Ao ser exposto a um ambiente no qual circulam apenas informações favoráveis a uma candidatura e desfavoráveis a outras, o indivíduo acaba pendendo para o lado favorecido, ainda que existam melhores opções. Mesmo sem mentir, é possível manipular através do desequilíbrio informacional. Ignora-se, por exemplo, que as expectativas da sociedade são afetadas pelo próprio processo eleitoral, frente à indefinição quanto ao futuro, o que acaba por gerar impacto sobre vários indicadores influenciados pelo comportamento. Por isso, ponderação é essencial.

Sempre votei pensando no conjunto da população e nos mais necessitados, e nunca apenas em minhas necessidades particulares. Aprecio boa parte deste projeto que visa ao bem estar de um grande número de brasileiros, em uma transição gradativa e pacífica, que tem desfeito aos poucos os laços com poderosos históricos e se baseado na atenção a todos os segmentos, inclusive os minoritários. Na política internacional, há um grande respeito por todos os países, mais ou menos desenvolvidos, e um respeito ainda maior pela paz. O Brasil dos meus sonhos é aquele que fará o adequado equilíbrio entre as liberdades individuais e o bem-estar coletivo, com a garantia da redução das desigualdades de oportunidades. O que menos importa são os nomes das correntes que ajudarão a compor um cenário no qual as diferenças de rendas e posses, além de ficarem em patamares humanamente aceitáveis, não mais implicarão em diferentes níveis de tratamento, valorização e respeito. E, tanto no discurso quanto na prática, com as necessárias negociações e interações democráticas, o atual governo tem se mostrado o mais capaz de seguir nesta direção. Meu objetivo é caminhar rumo a uma sociedade mais justa, centrada no ser humano e distante de obscurantismos.

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P.S.: O texto foi originalmente escrito para o primeiro turno das eleições, mas fiz uma revisão para o segundo, na qual foi suprimida a seguinte passagem, sobre as preferências religiosas de Marina: “Esforço-me para minimizar a importância da questão da influência religiosa, mas alguns pontos me preocupam. O pastor Silas Malafaia solta bravatas em público, faz ameaças à candidata e comemora quando ela atende a suas demandas. Ela, por sua vez, não vem a público deixar claro, de maneira firme, que a aparente ligação não existe, ou que existe apenas nos delírios do pastor. O físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, na Folha, expõe sua preocupação quanto à visão de mundo do criacionista. Jânio de Feitas, também na Folha, e Mário Magalhães, no UOL, resgatam um episódio interessante para demonstrar uma das radicais mudanças de posicionamento de Marina, que recentemente afirmou que sua posição contra os transgênicos seria apenas ‘uma lenda’. Mário lembra um discurso em que a então senadora explicava sua condenação aos transgênicos com base em ‘cinco referências bíblicas’ e ‘tendo em vista o lado espiritual’. Ela chegou a reproduzir, inclusive, um salmo em que é recomendado o respeito à integridade das sementes. Jânio conclui: ‘Transgênicos e religião associam-se para desmentir de uma só vez duas negações atuais de Marina’.”

24 de dezembro de 2013

Ótimos álbuns de 2013


Como sempre, pouco tempo para ouvir música, dessa vez devido ao aumento da família e ao início de um projeto que tem dado muito trabalho. Então, vamos ficar no "basicão" mesmo.


10º.
Les Revenants Soundtrack (Mogwai)

9º.
Matangi (M.I.A.)

8º.
AM (Arctic Monkeys)

7º.
Modern Vampires of the City (Vampire Weekend)

6º.
Mosquito (Yeah Yeah Yeahs)

5º.
The Next Day (David Bowie)

4º.
Push the Sky Away (Nick Cave and the Bad Seeds)

3º.
Shaking the Habitual (The Knife)

2º.
Randon Access Memories (Daft Punk)

1º.
Reflektor (Arcade Fire)

Que no próximo ano tenhamos bastante tempo para dedicar às pessoas de quem gostamos e às coisas que adoramos fazer.

17 de dezembro de 2013

Lição de vida emocionante e profunda...


O velho senhor, do alto de sua sabedoria e experiência, disse ao rapaz: “Por uma besta dar um coice não se lhe corta uma perna, pois mais vale um pau torto na mão do que dois macacos prevenidos”. Todos no bar se levantaram e aplaudiram de pé.

Algo semelhante ocorreu em um ônibus, mas, neste caso, o desfecho foi trágico, pois o motorista acabou distraindo-se da direção enquanto aplaudia.

A mãe, ao ver o filho adolescente entrando no carro com vários amigos, prestes a partirem para uma noitada irresponsável, gritou: “Vão com Deus!”. Ao que o filho respondeu, descontraído: “Só tem espaço para ele no porta-malas!”. Os vizinhos, que estavam escondidos por entre os arbustos e as árvores, saíram e aplaudiram de pé. Em seguida, pegaram alguns ovos que estavam no referido porta-malas e fizeram omeletes para todos.

O médico apresentou no importante congresso a cura do câncer, através de um método que utiliza apenas um pouco de antiácido. A comunidade científica internacional aplaudiu de pé.

Durante a enchente causada pelo temporal, três jovens uniram-se e fizeram uma corrente humana para salvar um pequeno cachorro isolado. No decorrer da operação, a correnteza veio trazendo um velho mendigo, bêbado, que se debatia e gritava por socorro. O barbudo passou exatamente por onde os jovens esticavam-se, mas eles se mantiveram firmes em seu propósito: desviaram-se do homem imprestável e trouxeram o cãozinho amedrontado para a terra firme. Lágrimas desceram pelo rosto do âncora do telejornal durante a apresentação da matéria sobre a família que adotara o pobre animalzinho.

O humorista, sobre o palco, contou a piada sobre a garota com uma doença terminal estuprada por um negro dentro da câmara de gás. A plateia riu muito e aplaudiu de pé.

O militar chorou copiosamente ao observar a foto do acidente de trânsito na qual era possível ver, ali no canto, uma mancha que lembrava a silhueta de Elvis Presley. Os colegas prestaram honras, emocionados.

O político do partido popular, acusado de corrupção, foi enforcado em praça pública. As pessoas na multidão, incluindo políticos corruptos de outras agremiações e empresários sonegadores e de comportamento condenável, exultados, gritaram e aplaudiram de pé.

Sozinho em seu apartamento, de frente para o computador, Fernando lia mensagens compartilhadas nas redes sociais e transmitia-as a seus contatos. Imaginava a reação dos conhecidos, a maioria distante, diante de cada texto compartilhado. Talvez o aplaudissem. Até mesmo de pé.