10 de setembro de 2012

Dez comportamentos estranhos ou incômodos das pessoas nas redes sociais


Sei reconhecer os aspectos positivos das redes sociais virtuais, como a possibilidade de troca de informações e ideias, mas o leitor, caso seja frequentador de alguma(s) delas, há de concordar que alguns membros demonstram comportamentos, no mínimo, estranhos. Para não pegar muito pesado, podemos dizer que, enquanto percorremos as postagens feitas pelas pessoas com as quais nos relacionamos (virtualmente, na maioria das vezes), sugeridas pelo algoritmo interno da rede social, em busca de algum material interessante, acabamos nos deparando com conteúdos um tanto incômodos. É claro que tudo isso é muito subjetivo: aquilo que incomoda gregos pode ser de grande valia para troianos.


Mesmo assim, resolvi fazer uma lista dos dez tipos de comportamento que mais me incomodam ou que, de algum modo, apenas revelam alguma questão mal resolvida do autor, não agregando nenhum valor à experiência de leitura das informações compartilhadas. Não falo daquilo que vai contra minhas opiniões, pois não me chateio por alguém estar defendendo uma visão diferente da minha, desde que tal defesa seja devidamente fundamentada. Considero o debate, inclusive, uma das melhores possibilidades de utilização de tais ferramentas. Também não me refiro ao conteúdo aparentemente banal, como as piadas e brincadeiras, nem mesmo às piadas ruins. Diversão é importante e é um dos motivos que me levam às redes. Afinal, não existe nenhuma determinação para que os assuntos tratados sejam sempre sérios, e nem para o contrário.

Conversas descontraídas ou mais sérias entre amigos ou conhecidos também não geram nenhum incômodo.

Enfim, esta lista será menos sobre os assuntos abordados e as opiniões de seus autores, e mais sobre o tratamento dado a eles. Pretendo elencar apenas o tipo de comportamento que não contribui ou até atrapalha aquela que considero a principal utilidade dessas redes, a qual já mencionei algumas linhas acima: a possibilidade de troca de informações e ideias, incluindo aquelas voltadas exclusivamente ao entretenimento.

10. Censura temática

O décimo item, o primeiro na ordem de leitura, será este, para deixar bem claro que o intuito dessa lista não é defender nenhum tipo de censura. Todo mundo deve ter o direito de publicar o que bem entender. O curioso, no entanto, é que algumas postagens tentam coibir o tratamento de certos assuntos.

“Se postar alguma coisa sobre o BBeBeu e Deu 26 (o ‘reality show’ do momento daqui a alguns anos), vou passar a ignorar tudo o mais que você disser”.

“Se defender o voto em algum candidato a cargo político, irei excluir-lhe imediatamente da minha lista, sem chances de retorno”.

Ui, que meda! Então divulgar o último e único sucesso do cantor popular que está atualmente nas paradas e cuja fama não irá durar até o próximo carnaval, isso pode. Mas falar de política, que influencia a vida de todo mundo, ou tratar de alguma futilidade tão importante quanto tantas outras que circulam livremente, aí não pode? Ah, não! Tá certo que não sou nem um pouco chegado a reality shows ou a sucessos passageiros, porém, o que não pode mesmo é censura. Pare de tentar estimular o tolhimento da liberdade de expressão em um ambiente que é essencialmente plural e democrático.

9. Síndrome do invejado

Como era bom o tempo em que a mania de perseguição, um dos grandes males que assombram as sociedades ocidentais, fazia com que as pessoas sentissem-se observadas, excluídas ou traídas. Na era das redes sociais, a coisa ficou um pouco mais chata: as pessoas sentem-se invejadas.

“Sua inveja faz a minha fama”. 

“A força da sua inveja é a velocidade do meu sucesso”. 

Quanta presunção... Essas postagens parecem-me tão pequenas e mesquinhas. Mas ampliemos um pouco mais a crítica: ao invés de direcioná-la apenas àqueles que se sentem vítimas da cobiça alheia, vamos estendê-la a todos que se consideram o centro das atenções e que acham que qualquer comentário refere-se a sua pessoa. Meu amigo (virtual ou real), o mundo não gira ao redor de seu umbigo. E, por causa de comportamentos como esse, é bem provável que muito pouca gente tenha inveja de você.

8. Exibicionismo

É muito legal compartilhar as fotos de momentos especiais com a família e os amigos. É algo que se faz desde bem antes da internet, através de projetores e álbuns. Mas algumas fotos parecem ter sido compartilhadas menos por causa das pessoas que nela figuram e mais por causa daquele carro importado ao fundo, ou da garrafa de uísque puro malte de cinquenta anos sobre a mesa, ou da bolsa de luxo a tiracolo. Sim, estou falando da ostentação de privilégios ou bens materiais. Que também pode dar-se através de mensagens escritas, e não apenas fotografias. Afinal, ninguém precisa ficar repetindo constantemente sobre como sua própria vida é maravilhosa. E, claro, essa necessidade de autoafirmação acaba cheirando a infelicidade mal disfarçada.

Já que falamos em autoafirmação, aproveito para dizer que, se você se acha o mais esperto, o mais inteligente, o mais bonito, o mais forte, enfim, o máximo, não precisa fazer postagens que sugiram essa suposta superioridade. Você acabará passando a impressão de que sofre de baixa autoestima e que precisa constantemente provar suas habilidades.

Não há motivos para se preocupar com uma ou outra foto que você publique e que seja, digamos, mais ostentatória. Também não vá sair acusando de exibicionista qualquer pessoa que postar uma foto de um momento prazeroso. Essa é uma questão de bom senso, coisa que não é simples, mas nem tão difícil. Com que frequência você posta fotos desse tipo? O que escreve nos textos que as acompanham? Basta saber dosar.

Você não se torna uma pessoa melhor aos olhos dos amigos ao compartilhar esse tipo de conteúdo. Muito pelo contrário: a ostentação excessiva não combina com o mundo repleto de injustiças em que vivemos. O caso mais curioso, no entanto, é o do indivíduo que sofre do problema deste item e também daquele que foi relatado no item anterior: o sujeito se exibe sem parar e depois ainda reclama dos invejosos. Pode? Poder, pode. Todos são livres para ostentar sua futilidade e superficialidade em toda a sua glória.

7. Proselitismo religioso...

No item 10 da presente lista, mencionei que ninguém deveria tentar “coibir o tratamento de certos assuntos”. Agora é importante dizer que “tratar de um assunto” significa apresentar e defender o seu ponto de vista sobre o mesmo, e não simplesmente dizer coisas desconexas e sem sentido. É bom passar algumas mensagens positivas e inspiradoras de vez em quando, mas, às vezes, o pessoal exagera na pregação religiosa.

Sabemos que há pessoas das mais diferentes crenças nas redes sociais e, muitas vezes, fica parecendo que as postagens ligadas a religião têm o propósito de afirmar o credo de seus autores perante os demais. Muito parecido com o que os torcedores de futebol fazem em relação a seus times. Eu acharia muito interessante, e até empolgante, se o dogmatismo fosse deixado um pouco de lado e os religiosos utilizassem o espaço para debaterem aspectos importantes de suas crenças, procurando justificá-los com pitadas de filosofia, ética, lógica. Por “importantes” entenda-se também palpáveis, razoáveis, passíveis de serem discutidos. Afinal, afirmações irracionais podem estimular atitudes irracionais. Esse desejo talvez não seja tão utópico quanto parece: de vez em quando, costumo defender a ideia de que pelo menos os indivíduos mais instruídos, em busca da construção de uma sociedade melhor, já deveriam ter abandonado os dogmas medievais que os acompanham; eventualmente, recebo respostas, favoráveis ou contrárias, que acabam gerando pequenos debates.

Veja bem. Se você diz algo como: “nada acontece por acaso e tudo tem um propósito”, ou: “no fim, a justiça será feita e tudo ficará bem”, espera-se que, em seguida, você apresente os motivos quer o levaram a tais conclusões. Ou que justifique a necessidade de perpetuação de determinados pensamentos. Jogadas ao vento, sem qualquer contextualização, essas afirmações não dizem praticamente nada.

Enfim, devemos observar que podemos nos expressar a respeito de qualquer assunto, inclusive religião, mas seria muito bom se o fizéssemos de maneira honesta e consistente, ao invés de nos rendermos a simples apelações.

6. ...e outros fundamentalismos

Não são apenas as certezas religiosas que atrapalham um melhor entendimento entre os seres humanos. Em qualquer área, as certezas costumam ser prejudiciais, principalmente quando incidem sobre posturas pouco embasadas. Eu já havia dito em outro de meus textos, através da declaração de um personagem fictício:

“Tenho a forte impressão de que grande parte dos problemas que enfrentamos - intolerância, discriminação, opressão, ignorância, violência, guerras, depressão, destruição dos recursos naturais, convívio difícil e desarmonioso - devem-se à grande quantidade de certezas infundadas espalhadas por todos os lados. Ações baseadas em certezas que não se justificam podem ser muito perigosas. Sempre que não houver um modo seguro de conhecer ou saber algo, aceitemos a dúvida e sintamo-nos estimulados a investigar. Nunca julguemos o comportamento de uma pessoa ou comunidade tendo como base apenas as próprias convicções. Vamos além: abandonemos as convicções e coloquemo-nos como eternos discípulos da realidade. Desse modo, talvez possamos ver o surgimento de relações harmoniosas e de um entendimento agradável e benéfico entre todos. (...) Muita gente enxerga um valor elevadíssimo nas convicções inabaláveis. Mas que vantagem há em, aos quarenta anos, bradar que possui as mesmas ideias que possuía aos vinte? A experiência da vida não vale nada?”

Por isso, quando for falar de economia, política ou comportamento humano, procure fugir dos dogmas que costumam dominar essas áreas. Tome cuidado para não embarcar em uma determinada corrente econômica ou ideologia política como se estas fossem as únicas viáveis. Ao invés disso, demonstre a sua viabilidade, mas sem deixar de observar que alternativas também podem ser aplicáveis, talvez com resultados melhores em certos pontos. Apenas afirmar sua certeza sobre a veracidade de algo não irá convencer ninguém.

Quando for discutir sobre artes ou qualquer outro assunto, observe se não está cometendo generalizações. Ao generalizar, você pode acabar deixando passar algo que gostaria de encontrar. Já vi, por exemplo, muitas pessoas a comparar estilos musicais, afirmando que determinado gênero é melhor do que outro. Mas todas as canções desse estilo são realmente melhores do que qualquer uma daquele outro gênero? Você pode descobrir que não é bem assim.

5. Tranqueiras inúteis

E aqui, perdidos no meio da lista, estão os tipos de conteúdo que devem incomodar o maior número de usuários das redes sociais. São as postagens extremamente desnecessárias de “bom dia” ou “hoje é quarta-feira”; ou aquelas com indiretas que só farão sentido a um público-alvo que talvez nem se perceba como tal; ou as pegadinhas que dizem que ajudarão alguém se você passar o conteúdo adiante; ou as mensagens automáticas e insistentes de aplicativos utilizados por seus contatos; ou as que exigem que você clique em algum linque ou autorize algum acesso especial à sua conta para, então, exibir o restante da mensagem. Não estou falando da divulgação de saites, blogues, eventos ou outro tipo de material, que pode revelar conteúdo interessante. Refiro-me, sim, àquele tipo de linque que acaba desencadeando alguma ação indesejada e inesperada. O que dizer, então, de obviedades como “se você ama sua mãe, compartilhe”, ou “se seus filhos são lindos, comente”? É quase o mesmo que dizer: “se você tem um nariz, compartilhe”.

Aqui vão algumas dicas. Se vir uma manchete e quiser ler a matéria, mas sem submeter-se a alguma condição, copie-a e faça uma busca, através de algum mecanismo de pesquisa, como o Google, ou no próprio portal no qual a notícia tenha sido publicada (caso haja alguma indicação de qual seja o portal junto à manchete). Só compartilhe alguma postagem que esteja pedindo ajuda se o próprio ato de compartilhar for ajudar, como no caso de pessoas desaparecidas (sempre que possível, verifique se o caso é mesmo verídico; as mensagens sinceras irão conter, provavelmente, alguma referência). Ninguém vai doar nenhum valor a um necessitado quando você compartilhar uma imagem. Caso queira colaborar financeiramente com alguém ou com alguma causa, a única maneira de fazê-lo é colocando a mão no bolso ou convencendo outras pessoas a fazê-lo. Lembre-se: muita gente utiliza-se desses artifícios tacanhos apenas para tornar populares as suas postagens.

Por isso, desconfie de qualquer mensagem que peça para ser compartilhada. É bem provável que seu autor esteja mais preocupado com popularidade do que com a causa que aparentemente defende. Tenho percebido que as mensagens mais interessantes evitam apelar para esse tipo de recurso.

Agora, uma pergunta: é mesmo necessário divulgar o atual estado emocional ou alguma coisinha sem importância que esteja fazendo?

“Estou muito feliz”.

“Vou comer uma pizza”.

“Acabo de espremer uma espinha gigantesca”.

É que vejo tanta gente fazendo isso que, às vezes, chego a pensar que estou deixando passar alguma coisa.

Ainda na linha das mensagens vagas, temos aqueles textos truncados, que podem não fazer muito sentido para os eventuais leitores e acabar sendo mal interpretados.

“Hoje é o início de uma nova fase em minha vida”.

“A partir deste dia, serei uma nova pessoa”.

Isso deve ser referir a alguma mudança de hábito que o indivíduo tenta levar a cabo, como uma investida para emagrecer, ou parar de fumar, ou não depositar mais tanta confiança nos outros, ou “sair do armário”, enfim. O fato é que a resolução não precisava ter se tornado pública. Pelo menos não de forma tão vaga. Além disso, após avaliar se a mudança é realmente necessária, o importante é mudar, e não avisar aos outros que está mudando! O aviso pode acabar desestimulando a ação, pois gera a falsa impressão de que algo já estaria sendo feito na direção do objetivo.

“Existem coisas que ainda me chocam...”

Sim, disso todos nós sabemos. Você não deve ser um insensível sem coração. Mas seja mais claro e diga que coisas são essas.

“Se continuarmos desse jeito, não sei onde vamos parar.”

De que jeito? A que está se referindo?

Perceba que minha crítica não é direcionada ao conteúdo humorístico ou a manifestações artísticas, e sim a mensagens inócuas, que não dizem absolutamente nada sobre nada.

4. Humor negro (ops! ...de mau gosto)
e o politicamente incorreto

É a já velha (ou da melhor idade) polêmica entre o politicamente correto e aqueles que acusam seus adeptos de fazerem patrulhamento ideológico, moralista, e, então, clamam pela liberdade de expressão e de manifestação do pensamento. Mas, em minha modesta opinião, há, realmente, brincadeiras e posturas que ultrapassam o limite. E qual seria o limite? Bem... Aqui é preciso apelar novamente para o bom senso.

Parece-me que há mesmo exageros de ambos os lados. Sou contra a imposição de restrições excessivas, que visem a textos assépticos, sem liberdade de crítica. Mas considero desmedida a reação contra o que se convencionou chamar de “politicamente correto”. A fim de evitar confusões e mal entendidos que levem a ideias sobre censura, prefiro defender meu posicionamento não com base nos limites que a liberdade de expressão encontra nas fronteiras com outros direitos, mas sim a partir do fato de que piadas e brincadeiras que exploram conceitos fáceis e do senso comum são extremamente fracas, dignas de um Zorra Total (humorístico televisivo de qualidade, no mínimo, duvidosa). É bem mais difícil e meritoso fazer um humor refinado de verdade, livre de apelações corredias. E olha que os palcos estão cheios de humoristas que se dizem modernos e de humor apurado, mas que insistem em tentar arrancar risadas fazendo troça de aleijados, pobres, negros ou minorias que não se enquadram no “comportamento padrão”.

Sempre ouvimos que toda brincadeira possui um fundo de verdade. Mas, esteja brincando ou não, observe se suas postagens não denunciam apenas uma tentativa de chamar a atenção, ou até mesmo preconceito verdadeiro. Creio que a grande maioria reprovará qualquer iniciativa de difusão do ódio ou de imposição de limitações a qualquer grupo. E eu dificilmente me colocarei ao lado de uma turminha que defende o direito de chamar os gordinhos de “rolhas de poço”, os anões de “pintores de rodapé” ou qualquer outra excrescência semelhante.

Outro dia vi uma charge que se dispunha a defender a limitação dos direitos humanos para certos grupos. Limitação com a qual discordo, diga-se de passagem. No cartum, o assassino reclamava com os policiais devido às algemas estarem muito apertadas, conquistando o apoio dos transeuntes que observavam a cena. Mas, por que diabos o assassino e as pessoas mais destacadas que o defendiam eram negros e as vítimas e os policiais eram brancos? Será que o intuito era apenas o de reforçar estereótipos ou a peça foi concebida de modo tão instigante que visava proporcionar dois níveis de reflexão, um criticando os “direitos excessivos” e o outro denunciando um triste quadro de discriminação?

Você tem todo o direito de debater sobre a questão das cotas raciais ou sociais, mas se não sabe a diferença entre ostentar a expressão “100% negro” ou “100% branco”, ou se acha que deveria existir um dia do orgulho hétero, então, infelizmente, você está muito distante de compreender o que foi dito neste item. Será mesmo tão difícil perceber que a ofensa está mais no contexto do que em simples palavras?

3. “Mentiroso! Mentiroso! Caluniador!”

Este é um dos pontos mais graves, pois pode resultar em bem mais que simples incômodos. Trata-se das mentiras e manipulações.

Seja criterioso com aquilo que compartilhar. Prefira informações que estejam amparadas por linques direcionados a fontes confiáveis. Faça uma pesquisa para verificar se a informação é verdadeira. Seus amigos esperam, no mínimo, poder confiar naquilo que você está divulgando.

Tome cuidado com mensagens que procurem manipular o contexto, através da omissão e da distorção de informações, evitando, assim, que você e seus amigos caiam em armadilhas. Não tente dar uma de espertalhão e espalhar mensagens que você sabe que são tendenciosas além do aceitável, apenas pelo fato de estas tentarem defender um ponto de vista com o qual você concorde. Seus amigos mais astutos acabarão ignorando a postagem e ainda poderão pensar que você foi tapeado por ela. É muito simples valorizar excessivamente determinadas questões e ignorar aquelas que não contribuem com a opinião que se pretende difundir, mesmo que sejam de extrema importância.

Veja-se, por exemplo, o caso de pessoas que divulgam, insistentemente, informações que prejudicam determinado partido político, como ocorrências de corrupção. Os indivíduos mais conscientes sabem que corrupção é um problema sério, que acomete o sistema político como um todo, afetando boa parte dos principais partidos, aqui e no restante do mundo. É extremamente inadequado tratar de um problema tão sério utilizando-se de partidarismo, pois isso não contribui em quase nada para as soluções. Mas é exatamente isso o que fazem as pessoas que praticam ataques tendenciosos: criticam repetidamente a corrupção de determinado partido, mas não propõem positivamente nenhuma outra agremiação partidária. E por que agem desse modo? Simplesmente porque, caso revelassem o partido de sua preferência, seria altamente provável que este estivesse envolvido em tantos escândalos quanto qualquer outro. A farsa estaria revelada. Por isso, se pretende contribuir para um debate honesto e consciente, prefira adotar uma postura mais propositiva, ao invés de apelar para críticas parciais e, consequentemente, omissas. Política é coisa séria (ou, pelo menos, deveria ser), e não um jogo no qual você abraça incondicionalmente uma torcida. Devemos valorizar os textos argumentativos, embasados por raciocínios consistentes e por informações verdadeiras.

Outro truque muito comum é a atribuição de textos a autores que não os escreveram, numa tentativa de despertar um maior interesse pelos mesmos. É muito fácil identificar esse tipo de trapaça com uma rápida pesquisa pela internet. Não irei apreciar ou concordar com um texto apenas pelo fato de ter sido escrito pelo Paulo Coelho ou pelo Arnaldo Jabor. Muito pelo contrário, no caso desses dois.

Mas o caso mais perigoso é o da divulgação de denúncias. É muita irresponsabilidade espalhar a foto de um indivíduo qualquer ao lado da imagem de uma criança com marcas de agressão e escrever logo abaixo, em letras garrafais: “Covarde!”. Ou, então, divulgar a imagem de um jovem seguida das inscrições: “Este é o marginal que está praticando assaltos no centro da cidade!”. Ora, isso pode transformar a vida de um inocente em um verdadeiro inferno ou, até mesmo, estimular tentativas de “justiçamento” independentes do direito oficial, o que significa, na prática, injustiça. Portanto, se você desconhece o caso e não sabe nada sobre sua veracidade, NÃO compartilhe esse tipo de comunicação! E observe que, para justificar publicações como essa, não vale dizer que ouviu falar, mesmo que tenha sido da boca de um amigo ou parente. Novamente, o ideal é apresentar fontes confiáveis e fazer a divulgação apenas se for realmente ajudar de alguma forma, sempre recomendando a denúncia às autoridades. Seja responsável!

E não se engane. A manipulação pode vir de qualquer lugar, até mesmo de onde menos se espera. Por isso, diversifique suas fontes de informação, pois mesmo aquele grande portal de notícias, aquela revista semanal ou aquele blogue famoso podem estar divulgando apenas a parte que lhes interessa da realidade ou, simplesmente, mentindo. Tome cuidado com as distorções, inclusive aquelas que você mesmo ajuda a divulgar, a fim de evitar a fama de mentiroso ou manipulador.

2. Hostilidade frente às divergências

As redes sociais, assim como o mundo, estão repletas de pessoas com as mais diferentes opiniões e pensamentos. É claro que ninguém detém a verdade absoluta ou um conhecimento definitivo. Não existe um jeito certo de se viver. Por isso, a fim de levar a vida com tranquilidade, é muito importante aceitar essa pluralidade e saber lidar com ela.

Ao contrário do atomismo das mídias tradicionais, as redes sociais são ambientes mais colaborativos e democráticos. E aquele espaço para comentários não está ali à toa. Sempre que compartilhar algo, esteja preparado para receber respostas de seus amigos e conhecidos, estejam eles concordando ou discordando de suas proposições. Gosto muito quando há divergências, pois isso abre espaço para o intercâmbio de ideias e de informações, produzindo novas formas de pensamento e gerando transformações. A humanidade precisa dialogar mais, compartilhar suas experiências e pontos de vista, e as redes sociais são excelentes espaços de interação.

Note que o respeito é muito importante, tanto no momento de postar alguma coisa, quanto no de comentar as postagens de outras pessoas ou de responder aos comentários. Deve-se ter sempre em mente que os embates são entre ideias, e não entre pessoas.

Pode ser que alguém discorde, mas acho que é preciso compreender que a maioria das questões humanas não se resolve com respostas prontas e exatas. Dificilmente teremos preto ou branco, mas sim uma escala com diferentes tons de cinza, de um extremo ao outro. Ou (por que não?) diferentes tons das mais diferentes cores. Uma coisa que atrapalha imensamente essa visão são as rotulações. Rotular, em muitos casos, é o mesmo que limitar. É reduzir ou simplificar as opiniões e posições alheias. E, algumas vezes, é agir com preconceito e radicalismo. “Relativista!” “Comunista!” “Reacionário!” “Conservador!” “Elitista!” “Ateu!” Use os rótulos enquanto eles ajudarem, mas não se prenda a eles e abandone-os assim que se mostrarem incapazes de acompanhar a complexidade das opiniões tratadas, colocando-se como verdadeiros obstáculos ao avanço da discussão.

Há algum tempo atrás, passei por uma pequena experiência de intolerância ao contraditório em redes sociais. Uma pessoa com quem eu mantinha algum contato, sempre cordial até então, inclusive na “vida real”, compartilhou a notícia de que o Papa havia dito que os homossexuais seriam uma ameaça à humanidade. Ligado ao catolicismo, essa pessoa endossava a opinião do clérigo e ainda defendia a supressão de direitos conquistados pelos homossexuais, como a união estável entre indivíduos do mesmo sexo.

Era perfeitamente aceitável que qualquer um concordasse ou não com sua opinião. Eu discordei e, respeitosamente, expus meus motivos. Pedi a ele que atentasse para o fato de que não havia apresentado nenhum motivo para a limitação que propunha, a não ser as próprias crenças religiosas. Argumentei que esse motivo não era suficiente para aquele propósito, visto que nem todos compartilhavam das mesmas crenças. Comparei sua tentativa com as limitações que foram impostas a outros grupos no passado, como aos negros e às mulheres, por exemplo.

A resposta que recebi foi extremante rude. Ao invés de tentar rebater os argumentos, ele passou a atacar-me pessoalmente, dizendo que eu queria apenas causar confusão e parecer superior a ele. Sua rispidez foi tamanha, que até alguns de seus amigos e algumas pessoas que também se diziam católicas passaram a criticar sua postura.

Alguns dias depois, eis que ele fez uma nova postagem, atacando um deputado homossexual pelo fato de este ter criticado o Papa com base em uma notícia falsa, que teria imputado ao pontífice uma falsa declaração. Fiquei curioso e fui verificar que notícia teria sido essa. E não é que era exatamente aquela de sua primeira postagem? Vejamos, então. Alguns dias antes, ele havia divulgado aquela mesma notícia e concordado com o seu teor. Mas um deputado que, assim como ele, havia sido enganado pelo jornal, merecia ser esculachado por isso. Bom, é claro que, àquela altura, eu sabia que a reação não seria nada boa, mas, mesmo assim, decidi expor-lhe a contradição. Resultado: ele deixou de ser meu amigo na rede social.

Não sei se o rompimento estende-se à “vida real”, pois, desde então, ainda não o encontrei. Mas admito que fiquei chateado, como fico sempre que a cordialidade é abandonada e a divergência de opiniões é confundida com desrespeito.

1. A crítica desnecessária (ou nem tanto)

Criticar o comportamento de outros usuários da rede social também pode ser considerada uma atitude estranha. Fazer uma lista sobre isso, então, pode ser bem inconveniente. Afinal, como já foi reforçado em itens anteriores, essas redes são ambientes livres e democráticos.

"Mas minha intenção é a melhor possível.”

Ora, de boas intenções o inferno está cheio!

“Eu só queria contribuir para a construção de um ambiente mais agradável, mais sincero e honesto, e até mais divertido.”

Não me venha com essa! Em um ambiente plural, todos têm direito de publicar o que bem entendem!

“Mas eu não discordo desse direito. A lista não trata dos assuntos das postagens, e nem das opiniões dos autores. Deixei isso claro na abertura! Apenas critiquei o modo como as coisas são feitas às vezes, chegando a comprometer o prazer e a utilidade da experiência, pois é possível tratar qualquer assunto de forma leviana, por mais importante que seja. E a pluralidade resulta justamente nisso aí: um ambiente onde todos publicam o que querem e onde todos criticam o que querem, mesmo que estejam se referindo a postagens de outras pessoas.”

Ora, meu amigo, mas isso se aplica não apenas às redes sociais, e sim à vida. Em uma sociedade que se diz democrática como a nossa, é essa a liberdade que se espera encontrar! Contudo, sabemos que há muitas pessoas que ainda torcem o nariz para essa constatação. Que não compreenderam que, provavelmente, as coisas nunca estarão acabadas. Essas pessoas podem sentir-se incomodadas...

“Claro, claro... Liberdade de verdade é isso aí, mas... Já percebeu que está conversando com você mesmo?”

É, é verdade. É melhor parar por aqui.

4 comentários:

  1. E eu achando que era algo interessante!

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  2. Muito bom o seu artigo! Gosto de texto assim, que são agudos na observação das pequenas coisas cotidianas. Abraços!

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